Dados da Serasa mostram que houve alta no volume de
processos em abril, na comparação com março, mesmo com represamento de pedidos.
Especialistas preveem disparada no número de casos de quebra de empresas nos
próximos meses.
Os pedidos de falências e recuperações judiciais aumentaram
em abril, na comparação com março. E a avaliação é que o volume de processos
deverá disparar nos próximos meses, diante da perspectiva de um forte tombo da
economia brasileira e mundial em 2020 e das dificuldades financeiras das
empresas em meio à pandemia de coronavírus.
Levantamento mensal da Serasa Experian antecipado ao G1
mostra que no mês de abril foram registrados 120 pedidos de recuperação
judicial no país, uma alta de 46,3% na comparação com março. Já os pedidos de
falência somaram 75, um aumento de 25% frente ao mês anterior.
Apesar do salto mensal, os números ainda ficaram abaixo dos
observados em abril de 2019. Clique
aqui para ver o gráfico.
Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, por
conta do isolamento social e das medidas de restrições, muitos cartórios e
varas judiciais não funcionaram normalmente, o que provocou um represamento no
número de pedidos. Por conta disso e do cenário de forte recessão, ele prevê
uma avalanche de pedidos neste ano e um retorno ao patamar recorde observado
durante a crise econômica de 2016.
"Com a recessão se instalando e com as dificuldades que
vários setores estão apresentando, tanto o número de falências quando de
recuperações judiciais é esperado que aumentem. Independentemente do tempo de
isolamento, os impactos na economia já ocorreram e vão demorar para ser
integralmente superados", diz o especialista.
Pelos números da Serasa, até agora o ano com o maior número
de insolvência de empresas foi em 2016, quando se atingiu o recorde de 1.863
pedidos de recuperação judicial no país.
"No começo do ano, parecia que o número de pedidos de
recuperação ficaria abaixo de 1.400 e da média dos anos anteriores. Com a
crise, deve voltar ao patamar da recessão de 2016", avalia Rabi,
destacando que a inadimplência voltou a atingir patamar recorde no país. De
acordo com a Serasa, 6,2 milhões de empresas tinham dívidas ou compromissos
financeiros atrasados em março.
"A insolvência acontece em etapas. Primeiro as empresas
ficam com dificuldades para honrar seus compromissos e ficam inadimplentes. Num
segundo momento, os próprios credores, em função desse acúmulo da inadimplência
entram com pedidos de falência, ou a própria empresa, por iniciativa própria,
solicita que seja aberto um processo de recuperação judicial para tentar chegar
a um acordo financeiro", explica.
Para o advogado Guilherme Marcondes Machado, especialista em
recuperação judicial, a crise atual deverá ser mais profunda do que a dos anos
2016/2017 por se tratar de uma recessão global e de duração ainda incerta.
"A gente vive hoje em uma economia globalizada,
interdependente. A cadeia inteira de fornecimento foi quebrada", afirma.
"O aumento nesses números virá mais substancialmente no segundo semestre,
e seguramente bem maior do que 2016".
O advogado alerta, porém, que a recuperação judicial é uma
ferramenta que deve ser utilizada com cautela, uma vez que não garante maior
chance de acordo com credores e menor risco de falência.
"Temos sido bastante procurados por empresas buscando
algum tipo de solução para a crise, e recomendamos sempre tentar a renegociação
extrajudicial antes de partir para uma recuperação judicial. Judicializar o
problema pode dificultar a negociação – principalmente com bancos –, e,
inclusive, ter o efeito inverso, acelerando a quebra da empresa", explica.
Pequenas empresas lideram casos de insolvência
Os dados da Serasa mostram que nos períodos de crise os
pequenos negócios são os mais vulneráveis e os mais impactados por processos de
insolvência.
Clique
aqui para ver o gráfico.
Do total de 120 pedidos de recuperação judicial feitos
em abril, 53 foram de micro e pequenas empresas, 44 de empresas médias e
23 de grandes empresas. De janeiro a abril, dos 377 casos no país, 226
envolveram pequenos negócios, 99 empresas de médio porte e 52 de grande porte.
Nos 75 casos de requisição de falência, 39 foram conta
micro e pequenas empresas, 20 contra grandes e 16 contra empresas médias.
No acumulado no ano, dos 315 pedidos, 173 envolveram pequenos negócios, 85
grandes empresas e 57 as de média porte.
"Sempre que há uma recessão os bancos ficam mais
restritivos e cautelosos na hora de conceder crédito. A corda sempre estoura
nas pequenas empresas, que são o elo mais fraco da cadeia", afirma o
economista da Serasa. "Um mês sem faturamento já praticamente quebra essas
empresas, que não costumam ter reserva de capital nem acionistas que possam
injetar recursos".
Reportagem do G1 mostrou que pequenas
empresas têm enfrentado dificuldades para ter acesso às linhas financiamento
emergenciais anunciadas pelo governo e evitar que as portas não
voltem a abrir.
Pesquisa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas) divulgada nesta segunda-feira (18) mostrou que, desde o
início das medidas de isolamento no Brasil, apenas 14% das micro e pequenas
empresas que solicitaram crédito conseguiram.
O Brasil tem atualmente cerca de 17 milhões de pequenos
negócios. Desses, quase 7 milhões (38%) procuraram crédito no período. Mais da
metade delas (58%), entretanto, não conseguiu o dinheiro, e 28% ainda estão
aguardando a liberação do banco, de acordo com o Sebrae.
Setor de serviços lidera número de pedidos de recuperação
Na análise por setores, o levantamento da Serasa revela que
o setor de serviços foi o mais impactado, com o número de solicitações de
recuperação judicial saltando de 44 em março para 92 em abril. No mesmo mês do
ano passado, foram 56.
No comércio, foram 13 solicitações em abril, na indústria,
12, e no setor primário, 3.
"O setor de serviços é o que concentra a maior
quantidade de empresas inadimplentes do país, metade do total", observa
Rabi.
O levantamento da Serasa monitora apenas os casos de
insolvência judicializados, não incluindo acordos extrajudiciais nem os casos
em que empresas decidiram encerrar as atividades por iniciativa própria.
Segundo o estudo do Sebrae, 44% dos pequenos negócios
interromperam as atividades com a crise do coronavírus, pois dependem de
funcionamento presencial. Os empresários relataram uma queda média de 60% no
faturamento com a pandemia. Embora todos os setores tenham registrado perdas,
elas foram mais acentuadas nas atividades da chamada economia criativa, que
envolvem eventos e produções (-77%), no turismo (-75%) e nas academias de
ginástica.
Fonte: G1