A crise decorre das paralisações por conta das
quarentenas decretadas em diversos Estados, provocando intensa queda de
consumo, aumento da taxa de desemprego, diminuição do ritmo ou até paralisação
de obras e vendas
Os mercados globais foram rapidamente atingidos com a
declaração de pandemia anunciada em março de 2020 pela Organização Mundial da
Saúde – OMS, em razão da disseminação global do novo coronavírus (Covid-19),
ocasionando uma desaceleração da economia global, afetando de forma instantânea
o mercado imobiliário no Brasil.
A crise decorre das paralisações por conta das quarentenas
decretadas em diversos Estados, provocando intensa queda de consumo, aumento da
taxa de desemprego, diminuição do ritmo ou até paralisação de obras e vendas,
desencadeando imediatos reflexos negativos no setor.
Esse forte reflexo tem ocasionado renegociações de aluguéis,
vacância de locações, pode gerar aumento do número de distratos de compromissos
de venda e compra, redução na compra de imóveis e consequente crescimento de
estoques, além de postergação de lançamentos por parte das incorporadoras e
diminuição da velocidade de vendas. Isso tudo impacta negativamente no mercado
imobiliário.
Algumas grandes empresas do setor já sofrem com a recente
crise. A João Fortes Engenharia e a Esser, por exemplo, entraram com pedido de
recuperação judicial no mês de abril1, ambas por conta de problemas financeiros
do passado, somados à atual chegada da nova crise.
Entretanto, analisando algumas decisões tomadas pelas
empresas em 2019 e no início de 2020, vimos que muitas incorporadoras e fundos
se capitalizaram ao longo deste período, gerando uma saúde financeira melhor e
folego de caixa para suportarem a crise. Diversos são os exemplos: EZTec,
Trisul, Moura Dubeux, Mitrae, BR Properties, Fundo Imobiliário Vinci Logística
(VILG11), Fundo Imobiliário BTG Pactual Fundo de Fundos (BCFF11), dentre
outros.
Desse modo, analisando friamente os impactos causados no
mercado imobiliário nacional, que vinha caminhando em uma próspera retomada em
2019 e início de 2020, conseguimos enxergar que o mercado declina, de fato,
para uma nova crise, contudo, dependendo do plano de contingência e estratégia
tomada por alguns players, podemos ser otimistas para o futuro do setor, que
pode reservar boas oportunidades para essas empresas.
A capitalização, a estratégia e o plano de contingência
somados à queda da taxa básica de juros (Selic), em patamar mais baixo da
história recente, em 3%2, traz um cenário promissor para o setor. Inclusive, há
sinalização do COPOM (Comitê de Política Monetária) para novos cortes na Selic,
o que deve ajudar a impulsionar o mercado após a retomada gradual da
normalidade das atividades.
A segurança jurídica do setor, intensificada com a chamada
Lei do Distrato3, também ajuda a impulsionar o mercado.
Assim, as empresas do setor que alinharem um plano
estratégico e de contingência para suportar esse período de crise e,
posteriormente, utilizarem da melhor forma a alocação de capital ainda terão
grande potencial para continuar a performar bem com base no mesmo senso de
otimismo e fundamentos que eram cogitados e destacados em 2019 para esse ano.
As companhias, de forma rápida, criaram comitês de crise, bem
como trouxeram inovações digitais aos segmentos de construção residencial e
comercial; assim, uma redução de custos pode ser esperada daqui para a frente,
pois é preciso repensar a forma das instalações das empresas e comunicação com
cliente final, por exemplo.
Os fatores que nos deixam otimistas para o futuro do mercado
imobiliário e sustentam a tese de oportunidade são os mesmos identificados em
2019, destacados nesta coluna no artigo “A taxa Selic e o mercado
imobiliário”4, somado com as inovações trazidas ou ao menos difundidas com a
crise, em que pese haja um prolongamento na concretização daquelas projeções.
Boa parte do mundo já estuda e adota medidas para retomada
das atividades econômicas, com as devidas preocupações e precauções, e é
esperado o retorno gradual de receita do setor no segundo semestre deste ano.
Logo, as grandes companhias que já passaram por diversos
períodos de crise e já foram testadas e aprovadas em vários ciclos econômicos,
irão sobreviver, contudo, tudo depende do plano de estratégico formulado e
posto em prática, que pode garantir a alguns grandes players uma posição de
maior destaque no mercado.
Portanto, existe um cenário otimista pós pandemia para o
mercado imobiliário, setor este que sempre foi a locomotiva da economia, e no
qual a crise também traz oportunidades, devendo os melhores players inovar e se
adaptarem.