Você já passou pelo término de uma relação? É, eu também. Em
que curva o amor acaba e desce o barranco capotando? Talvez no passar do
cotidiano ou nas ironias ferinas. Em certos lados a intimidade amplia o amor ou
transforma em algo novo e diferente. Na outra calçada, os pequenos problemas
vão se acumulando – até que transbordam. Paixão é doença ou benção? A ciência
diz que tem data para acabar, um par de anos. Na velocidade de hoje em dia
alguns já dizem dois meses. O que sei é que começa de repente. E acaba
lentamente?
Hoje quem me chega é o fim. Exasperado na palavra de amor
que virou xingamento. Quando os erros valem mais que todos os acertos.
Passei por isso um dia desses, ou estou passando, sei lá. É
um trabalho de desapego, um reaprender a andar consigo mesmo. Caminhar sozinho
na multidão de mãos dadas com a solidão. Que não nos debulhemos em lágrimas,
mas que elas escorram se assim tiver que ser; é melhor deixar fluir, do que
conter. Cortar uma cebola talvez ajude.
Descobri que durante a quarentena, o Colégio Notarial do
Brasil, o qual reúne os cartórios de notas do país, registrou um aumento de
10,6% na quantidade de divórcios consensuais na comparação entre fevereiro e
maio. Nos sites de busca, a procura por um certo termo quadruplicou nos últimos
90 dias: “divórcio online gratuito”.
Só sei que quando acordei, após uma discussão fatídica e
decisiva, o dia estava chuvoso, fechado. Parecia combinar com meu estado
mental. Fui dormir tarde e acordei cedo para uma reunião. Participei quase como
um enfeite. Nem os dois cafés conseguiram me reanimar. Mantive a cabeça balançando
como aqueles cachorrinhos vendidos pelas ruas, o corpo fixo e a cabeça se
mexendo quando solicitado. Almocei, a tarde veio surgindo e sentei para
escrever essa crônica. O dia clareou. Não completamente. As nuvens ainda
estavam lá, todavia, já dava para ver uns pontos de céu azul. É o clima do fim?
Porém, em todo fim jaz um (re)começo. A claraboia ilumina a
mesa onde escrevo e jorro a melancolia da nostalgia de uma boca que não
beijarei mais. Buscarei na cama um corpo que virou lembrança. No vazio, escuto
o zunir da mosca e o barulho dos carros entra misturado ao som dos pássaros.
Não convidei nada disso. Assim a vida é, se fechar uma porta, ela entra pela
janela.
Fica a gratidão, jamais o rancor. Um sol se põe, mas a manhã
do amanhã trará um novo início. Que bom.
Fonte: Papo de Talarico