O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou recomendação
aos tribunais estaduais brasileiros para que dialoguem com as secretarias de
segurança pública locais e adotem o registro eletrônico de ocorrências em
crimes relacionados à violência doméstica. O canal virtual tem como objetivo
aumentar o acesso das vítimas à Justiça durante a quarentena. O ato foi julgado
na 21ª Sessão Virtual Extraordinária, de 8/6, e publicado no Diário de Justiça
eletrônico em 19/6.
O texto foi elaborado pelo grupo de trabalho criado pelo
presidente do CNJ, ministro Dias Toffoli, para desenvolver e liderar ações que
reduzam o número de assassinatos e violências contra as mulheres no âmbito
doméstico, durante a pandemia do novo coronavírus. Apesar de ser uma medida
fundamental para conter o avanço da Covid-19, o isolamento social é considerado
um dos fatores de aumento da subnotificação dos casos de violência doméstica em
todo o mundo.
Além do registro eletrônico on-line, a recomendação indica o
envio virtual (upload) de dados e arquivos – como documentos, fotografias,
exames médicos ou laudos – que demonstrem a materialidade da infração, assim
como os pedido de medidas protetivas de urgência. “Em boa parte dos estados,
para a mulher denunciar, é necessário que ela vá até a delegacia e isso tem
sido mais difícil para a grande maioria, neste momento. Muitas estão com seus
parceiros agressores dentro de casa”, disse a conselheira Maria Cristiana
Ziouva, coordenadora do Movimento Permanente de Combate à Violência Doméstica
do CNJ e coordenadora-adjunta do grupo de trabalho.
A norma também recomenda que a vítima seja imediatamente
comunicada, por contato telefônico ou aplicativo de mensagem, como o Whatsapp,
das decisões e atos judiciais referentes ao seu agressor, como expedição de
mandado de prisão, alvará de soltura ou fuga do investigado. “É uma
recomendação extremamente importante para o enfrentamento à violência doméstica
e familiar durante esse período de pandemia. Ela estabelece ações que protegem
essa mulher, física e psiquicamente”, completou Ziouva.
Em abril, o índice de feminicídio cresceu 22,2% no país, de
acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No Acre, o aumento foi de
300%. Em São Paulo, nota técnica divulgada pelo Ministério Público do estado revelou
aumento de 51% nas prisões em flagrante relativos a atos de violência contra a
mulher. Em relação ao mesmo período do ano passado, também houve crescimento no
número de pedidos de medidas protetivas de urgência e o dobro de feminicídios.
O coordenador do GT do CNJ sobre o tema é o ministro do
Superior Tribunal de Justiça Rogerio Schietti Cruz. Do CNJ, também participam
as conselheiras Flávia Pessoa e Tânia Reckeziegel, além do juiz auxiliar da
Presidência Rodrigo Capez. Representando os tribunais de Justiça, estão no
grupo as magistradas Adriana Ramos de Mello (TJRJ), Eunice Maria Batista Prado
(TJPE), Julianne Freire Marques (TJTO), Maria Domitila Prado Mansur (TJSP) e
Salete Sommariva (TJSC), além da presidente da Associação dos Magistrados
Brasileiros (AMB), juíza Renata Gil de Alcântara Videira. O grupo também foi
responsável pela criação da campanha Sinal Vermelho Contra a Violência
Doméstica, para ajudar mulheres em situação de violência a pedirem ajuda nas
farmácias do país.
Fonte: Conselho Nacional de Justiça