A Campanha Máscara Roxa, que possibilita às mulheres vítimas
de violência doméstica fazerem denúncias em farmácias, foi lançada nesta
quinta-feira (9), por videoconferência, no Sul do Rio Grande do Sul. A
iniciativa é do Comitê Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres. A agenda contemplou
39 cidades de abrangência das associações dos municípios da Costa Doce
(Acostadoce), da Região da Campanha (Assudoeste) e da Zona Sul (Azonasul).
A reunião foi conduzida pelo deputado estadual Edegar Pretto
(PT), que coordena o Comitê. Ele explicou que o objetivo dos lançamentos
regionais é motivar diversos setores da sociedade para se engajarem à campanha
e ampliar o número de farmácias com adesão. “Queremos que cada município tenha
ao menos uma farmácia amiga das mulheres, que possam nos ajudar a salvar
vidas”, argumentou.
O parlamentar comentou que há uma constatação mundial do
aumento dos casos de violência contra as mulheres neste período de isolamento
devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, por conviverem mais tempo
em casa com seus agressores, as vítimas têm dificuldades de fazer a denúncia,
seja na delegacia, por telefonema ou de forma virtual. Isso também gera uma
subnotificação dos casos de violência doméstica.
Por esse motivo, a ONU Mulheres recomendou a seus países
criarem políticas que facilitassem a denúncia, envolvendo as farmácias. No RS,
o Comitê Gaúcho ElesPorElas organizou a Campanha Máscara Roxa, tornando o
estado o primeiro do Brasil a ter essa iniciativa. “É uma campanha para ajudar
a tirar as mulheres da condição de violência doméstica. Mesmo em situações de
lockdown, as farmácias não fecharão durante a pandemia. Então elas são pontos
estratégicos para ajudar com as denúncias, de forma segura e discreta”,
afirmou.
O deputado disse que a realidade do RS também motivou a
campanha, devido ao aumento de casos de feminicídios durante esse período de
isolamento. Ao todo, 28 mulheres foram assassinadas por questões de gênero nos
meses de março, abril e maio, conforme dados da Secretaria de Segurança
Pública. Somente em abril, o aumento foi de 66,7% em relação ao mesmo mês do
ano passado. Ao todo, desde o início do ano, 43 mulheres morreram vítimas de
feminicídio no estado.
Como funciona a campanha
Lançada no dia 10 de junho no RS, a Campanha Máscara Roxa
permite que mulheres vítimas de violência doméstica façam denúncias em
farmácias. Ela começou com 600 farmácias, e já são 1.314 unidades de quatro
redes envolvidas. De abrangência da Acostadoce, sete dos 11 municípios possuem
estabelecimentos participantes. Na região da Azonasul, nove dos 21; e na
Assudoeste, três dos sete. Até o momento, farmácias de oito municípios gaúchos
já receberam denúncias, em Venâncio Aires, Bento Gonçalves, Casca, Pinhal, Capão
da Canoa, Vitória das Missões, Rio Grande e Porto Alegre.
Todas as farmácias com adesão estão com o selo “Farmácia
Amiga das Mulheres”, que serve para que as vítimas as identifiquem. Os
atendentes receberam capacitação online para o procedimento e para garantir a
segurança da vítima. Ao chegar na farmácia a mulher deve pedir a máscara roxa,
que é a senha para que o atendente saiba que se trata de um pedido de ajuda. O
profissional dirá que o produto está em falta e pegará alguns dados para
avisá-la quando chegar. Após, o atendente da farmácia passará à Polícia Civil
as informações coletadas, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas
necessárias.
Edegar Pretto lembra que qualquer farmácia pode participar
da campanha. Segundo ele, o objetivo é envolver também aquelas que não fazem
parte de grandes redes, mas que estão em cidades menores. “As farmácias que
aderirem prestarão um grande serviço à vida das mulheres, sem cobrar nada, nem
pagar nada. Elas não responderão a processos judiciais, pois é garantido o
anonimato do estabelecimento e do atendente”, destacou. Interessados devem
entrar em contato com o Comitê: 51 991993641 |
comite.gaucho.elesporelas@gmail.com
Participações de todas as regiões
O lançamento Campanha Máscara Roxa na Zona Sul do estado
contou com a participação de representantes de órgãos de segurança, Poder
Judiciário, proprietários de farmácias, além de autoridades, lideranças locais,
representações de diversas instituições e da sociedade, e imprensa.
Juíza da Vara da Violência Doméstica e Familiar do Foro de
Rio Grande, Denise Freire disse que a campanha é muito relevante porque amplia
os canais de denúncia. “Os números de registros de Rio Grande diminuíram nesta
fase, enquanto a violência contra mulher aumentou. Isso significa que as
mulheres seguem sendo violentadas, mas não conseguem contatar as autoridades.
Esse engajamento com a Polícia Civil e as farmácias vai ajudar muito as
vítimas.”
Promotora do Ministério Público Estadual, Carla Souto
ressaltou que é muito difícil para a vítima de violência doméstica tomar a
decisão de denunciar o seu agressor e que ela precisa se sentir segura e saber
que terá o suporte das autoridades. Ela acrescentou ainda que o problema da
violência doméstica deixou de ser só do casal. “É uma questão de saúde
pública”.
Defensora pública, Liseane Hartmann informou que as mulheres
estão mais propensas a serem vítimas de vários tipos de violências neste
período de isolamento. Ela defendeu que toda a sociedade se mobilize para
auxiliar as vítimas. “O combate à violência doméstica é de responsabilidade de
todos”.
Diretora do Departamento de Políticas para Mulheres do RS,
Bianca Feijó solicitou o apoio dos representantes dos municípios para que
divulguem a campanha e conversem com proprietários de farmácias, a fim de somar
mais estabelecimentos que estejam aptos a ajudar as mulheres.
Reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro
Hallal lembrou que a instituição também faz parte do Movimento ElesPorElas e
que tem criado uma série de campanhas que dialogam com essa pauta no ambiente
universitário. “Além de estarmos colaborando com a pesquisa em relação ao
coronavírus, a UFPel tem um olhar muito atento para a questão da violência
contra a mulher e a violência de gênero”.
Delegada da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher
de Rio Grande, Paula Garcia falou que a Polícia Civil tem a preocupação de
sempre estar atualizada para melhorar o trabalho no combate à violência contra
a mulher. Para ela, a campanha é mais uma forma integrar o órgão com a sociedade
gaúcha. Já o coronel da Brigada Militar, Eduardo Perachi, fez um reconhecimento
ao trabalho dos servidores e servidoras da Patrulha Maria da Penha. “É muito
relevante”.
Taíse Azevedo, das Farmácias Associadas, disse que a rede é
composta de pequenos empresários em diversos municípios, fazendo com que a
Campanha Máscara Roxa chegue a todas as regiões do estado. “Estamos muito
felizes de participar, pois podemos fazer a diferença nesse momento de
pandemia”.
Coordenadora de Políticas para as Mulheres de Rio Grande,
Maria de Lourdes Lose, comentou que a campanha é muito importante e que em seu
município tem sido constituída a Rede Lilás, que possibilita reagir rapidamente
em relação às demandas de violências cometidas contra as mulheres. Maria apontou
ainda que é de responsabilidade do Estado amparar com estruturas as vítimas de
violência doméstica.
Prefeito de Arroio Grande e presidente da Azonasul, Luís da
Silva, anunciou que o seu município se comprometer a ajudar na divulgação da
campanha. “Vamos buscar mais farmácias que possam ser parceiras do fim da
violência contra a mulher”.
Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de
Rio Grande, Magnólia Carvalho afirmou que as mulheres enfrentam no momento duas
pandemias: a do coronavírus e a da violência contra as mulheres, “que sempre
ocorreu”. “Campanhas como a Máscara Roxa, que ressaltam a possibilidade das
mulheres buscarem ajuda e apoio, são muito importantes”.
Gerente Regional da Emater/RS-Ascar de Pelotas, Regina
Medeiros contou que a entidade trabalha junto com a rede de apoio às mulheres e
que tem pautado, inclusive com os homens, o tema da violência doméstica. Ela
sugeriu que seja pensada uma alternativa para contemplar ainda, de forma mais
facilitada, as trabalhadoras rurais, que também sofrem violência e muitas vezes
têm difícil acesso à cidade.
O vereador Edinho Lopes, de Rio Grande, apontou que é
preciso dialogar com os homens “sobre essas práticas inadequadas de violência
contra as mulheres”. Ele disse que no município há grupos reflexivos de homens,
para que deixem de ser agressores, além de uma rede de proteção às mulheres que
optarem por fazer a denúncia.
Presidenta da Associação das Defensoras e dos Defensores
Públicos do Estado do RS (ADPERGS), Juliana Lavigne elogiou a campanha e
parabenizou todas as farmácias que estão aderindo. Ela reforçou que a pandemia
tem vitimizado duplamente as mulheres: através da doença e da violência
doméstica.
Outros lançamentos regionais
De acordo com o Comitê Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres,
até o final de julho serão feitos outros lançamentos regionais da Campanha
Máscara Roxa, contemplando também as regiões Fronteira Oeste, Missões,
Planalto, Nororeste, Alto Uruguai, Litoral Norte, Serra, Carbonífera e
Metropolitana de Porto Alegre. Na semana passada, os lançamentos virtuais foram
nas regiões Norte e Centro, abrangendo ao todo 76 cidades. Na última
terça-feira (7) ocorreu na região Celeiro, que possui 21 municípios.
Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na
região da Azonasul
- Arroio do Padre (Rede Vida)
- Arroio Grande (Farmácias Associadas)
- Canguçu (Vida Farmácias)
- Pelotas (Farmácias Associadas / Vida Farmácias, da Rede
Vida / Uso Indicado / Farmácia de Manipulação Vida Nova)
- Piratini (Farmácias Associadas)
- Rio Grande (Farmácias Associadas / Vida Farmácias, da Rede
Vida)
- Santa Vitória do Palmar (Farmácias Associadas)
- Santana da Boa Vista (Farmácias Associadas)
- São Lourenço do Sul (Farmácias Associadas)
Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na
região da Acostadoce
- Arambaré (Farmácias Associadas)
- Camaquã (Farmácias Associadas)
- Cerro Grande Do Sul (Farmácias Associadas)
- Cristal (Farmácias Associadas)
- Dom Feliciano (Farmácias Associadas)
- Sentinela Do Sul (Farmácias Associadas)
- Tapes (Farmácias Associadas)
Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na
região da Assudoeste
- Bagé (Farmácia Associadas / Farmácia Sant’ana, da
Rede Vida / Farmácia da Estação, da Rede Vida / Farmácia Alves / Medicare
Farmácias)
- Caçapava do Sul (Nicola Farmácias)
- Lavras do Sul (Nicola Farmácias)
Fonte: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul