O Judiciário respondeu de forma célere às urgências impostas
pela pandemia da Covid-19, assegurando a continuidade da prestação de serviços
à sociedade pelo uso da tecnologia e pela mobilização dos tribunais. Assim que
foi declarada a situação de calamidade pública, em março, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) firmou um acordo com a Cisco Brasil tornando disponível aos
tribunais o acesso gratuito à plataforma Webex para a realização de
videoconferências. De outro lado, a ação de magistrados e servidores em adaptar
ritos e procedimentos à realidade do trabalho remoto e virtual tem sido
determinante em garantir os serviços judiciais essenciais aos cidadãos.
Os resultados podem ser conferidos em números. Desde que foi
instituído o Plantão Extraordinário na Justiça brasileira, foram proferidas 12
milhões de decisões judiciais, publicados 7,8 milhões de acordos e realizados 20,1
milhões de despachos, em um movimento que abrange tribunais de todos os
segmentos. Os grandes números obtidos em meio à pandemia, que o CNJ torna
disponível no Painel
da Produtividade do Judiciário, são resultado da ação coletiva de
milhares de magistrados, servidores e colaboradores.
Neste momento, órgãos judiciais nas diversas comarcas do
país colocam em ação inúmeras boas práticas no segmento tecnológico que têm
assegurado a milhões de brasileiros o acesso aos serviços prestados pelo
Judiciário. Para identificar melhor os resultados do uso da plataforma Webex e
construir caminhos para o futuro do trabalho remoto no Judiciário brasileiro, o
CNJ iniciou uma pesquisa, por meio de questionário enviado por ofício aos
tribunais, com a coleta de dados até o dia 22 de julho.
Crescer na crise
Um dos casos bem sucedidos já conhecidos é o do Tribunal
Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT-9). Assim que foi declarada a pandemia,
o órgão se viu diante da paralisação iminente de suas atividades. Foi quando a
Escola Judicial do tribunal se mobilizou para oferecer três cursos de ensino à
distância sobre técnicas e orientações em mediação e conciliação por
videoconferência. Em abril, na primeira vez em que foi veiculado para os
integrantes das cerca de 100 varas do trabalho no Paraná, o curso por
videoconferência reuniu mais de 400 participantes, entre juízes e servidores.
Desde então, o curso EAD “Introdução à mediação e à
conciliação por videoconferência na Justiça do Trabalho” tem sido ministrado
remotamente em outros estados. E, até o momento, 11 das 24 escolas judiciais
dos tribunais regionais do trabalho transmitiram o curso para garantir que
parte das audiências de conciliação e mediação tenha continuidade durante o
enfrentamento da Covid-19.
“Cabe a nós fazermos de uma crise uma oportunidade para
aperfeiçoarmos a prestação jurisdicional”, diz o juiz Fernando Hoffmann,
idealizador do curso, coordenador da Escola Judicial do TRT-9 e membro do
Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflito (Nupemec) do
Tribunal de Justiça do Paraná.
Nos cursos, são transmitidos a magistrados e servidores
informações sobre como organizar audiência de mediação ou de conciliação por
videoconferência com uso da plataforma Webex. São transmitidas técnicas sobre
como as partes devem proceder para melhor se comunicarem por meio virtual, como
exercer a escuta ativa na audiência e como utilizar a sala de espera virtual
enquanto o juiz ou o mediador necessita falar com uma das partes em particular,
entre outras orientações.
O juiz Fernando Hoffmann considera que ainda há um longo
caminho de aperfeiçoamento no uso de videoconferências nas atividades do
Judiciário e especificamente nos procedimentos da Justiça do Trabalho. E, em
sua análise, tais avanços dependerão da inclusão digital de milhares de
pessoas.
O magistrado está, por outro lado, no grupo dos que
acreditam que o Judiciário sairá da pandemia com maior capacidade tecnológica,
mais célere e que procedimentos tidos como dispendiosos, como a carta
precatória, tendem a desaparecer, dando lugar a procedimentos mais rápidos, de
menor custo e mais compatíveis com a contemporaneidade. “No pós-pandemia,
imagino que não vamos mais pensar em carta precatória.”
A utilização das cartas precatórias em situações que
envolvem pessoas que residem em comarcas distintas do processo de origem leva
entre dois meses e um ano para serem cumpridas. Prazos que estão sendo
expressivamente encurtados para dias ou poucas semanas nas audiências por
videoconferência realizadas na pandemia.
Vencendo resistências
Em meio a uma crise sanitária mundial, nos próximos dias em
Belo Horizonte magistrados e servidores do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
Região (TRT-3) realizarão uma audiência cujo reclamante está na Inglaterra,
dando prosseguimento a procedimentos de um processo trabalhista.
A atuação remota está sendo realizada graças ao uso da
plataforma Webex e à ação de juízes e servidores para disseminar técnicas de
uso da plataforma. O resultado tem sido a realização diária de sessões,
audiências, reuniões de trabalho e seminários em trabalho remoto.
Assim que os trabalhos presenciais foram interrompidos, em
março, o TRT-3 criou dois manuais sobre o uso da plataforma Webex em
videoconferências, sendo um para uso interno do tribunal e outro para uso
externo por advogados e partes interessadas em processos.
Com os manuais prontos, o TRT-3 disseminou o uso da
videoconferência em canal no YouTube de forma que juízes e servidores das 158
varas do trabalho em Minas Gerais tivessem acesso rápido sobre como usar a
plataforma em atos processuais da justiça trabalhista e também para a
organização das rotinas de trabalho.
O diretor da 3ª Vara do Trabalho em Belo Horizonte, André
Luiz de Andrade Santos, que utilizou seu canal no YouTube para divulgar o uso
da plataforma, comenta que, no início, havia resistência por parte de alguns
advogados, que relutavam em realizar audiências por meio virtual. Mas à medida
que as atividades jurisdicionais foram realizadas e os processos virtuais
voltaram a tramitar, as resistências foram sendo vencidas.
“Hoje é pacífico entre magistrados e servidores que não
vamos parar de usar a plataforma virtual. Principalmente para alguns tipos de
audiência se ganha muito porque as partes não precisam ficar se deslocando.
Minas é um estado extenso, muitas vezes é necessário percorrer grandes
distâncias para se comparecer a uma audiência, como no caso das pessoas que
moram no norte de Minas”, conta André Luiz.
Cenários futuros
No CNJ, o juiz auxiliar da Presidência Bráulio Gusmão foi um
dos que estiveram à frente da tarefa de criar as condições para que os tribunais
pudessem se manter em atividade em uma situação de calamidade pública por
pandemia.
E foi nesse contexto que o CNJ firmou um acordo com a Cisco
Brasil para o uso da
plataforma Webex nos atos processuais de forma gratuita e em todo
o país. “Fizemos o acordo com Cisco Brasil, criamos fluxo de registro e
solicitação de salas virtuais, promovemos webinários, manuais e orientações aos
tribunais. Abrimos tudo que foi possível, criamos uma rede de orientação e de
divulgação (do uso da plataforma para videoconferência) e o projeto é um
sucesso”, afirma o juiz Bráulio Gusmão.
Segundo ele, o acordo visou garantir aos tribunais um
instrumento emergencial para a continuidade dos serviços em um trabalho no qual
as áreas de tecnologia dos órgãos do Judiciário tiveram uma ação rápida e
qualitativa.
Entre os atos que vem sendo feitos por videoconferência
constam: sessões de julgamento, audiências, perícias, tratativas de acordos,
reuniões de trabalho e reuniões de treinamento em atos processuais em todas as
comarcas. Um dos destaques tem sido a realização de seminários com elevado
número de participantes, a exemplo dos promovidos pelo CNJ e que têm reunido,
por videoconferência, milhares de pessoas. Um dos exemplos foi o seminário
“Questões Raciais e o Poder Judiciário”, que em meio a uma pandemia reuniu
cerca de 3 mil pessoas nos dias 7 e 8 deste mês.
O acordo do CNJ com a Cisco/Webex firmado em março tinha
duração de 90 dias, prazo que foi prorrogado até setembro. A partir disso, o
CNJ está montando cenários sobre como deve ser o uso da videoconferência nos
atos processuais no pós-pandemia para apresentar uma diretriz consolidada para
os tribunais sobre o uso dessa tecnologia de forma permanente.
“O uso da videoconferência veio para ficar e fará parte da
nossa rotina. O outro aspecto é como fazer isso, porque será necessário
investimento e planejamento porque o uso das videoconferências tem que ser
sustentável no tempo e nosso trabalho, agora, é preparar o terreno. Já que as
videoconferências farão parte da nossa rotina, a questão é saber como fazer
isso”, destaca Gusmão.
Entre decisões que serão necessárias para a continuidade do
uso desse instrumento estão escolhas sobre tecnologias a serem usadas e o nível
de investimentos nessa modalidade.
Fonte: Conselho Nacional de Justiça