Medida que entrou em vigor na sexta-feira obriga empresas
a adotarem processos seguros e transparentes ao mexer com informações de
clientes e usuários; falta de autoridade nacional é empecilho para fiscalização
Desde a sexta-feira passada, 18, a Lei Geral
de Proteção de Dados (LGPD) obriga que toda empresa que tenha
operações no Brasil, mesmo tendo origem fora do país — como as gigantes
das redes sociais ou
serviços de streaming—,
adote processos mais seguros e transparentes para o tratamento, proteção,
compartilhamento ou divulgação de informações pessoais de clientes e usuários.
Além disso, a nova legislação permite que qualquer pessoa questione como as
informações que ela cadastra em um site, como o nome completo, endereço, número
de telefone, dados bancários, orientação sexual, preferência política, entre
diversos outros pontos, são usados por essa empresa, e por qual razão e por
quanto tempo ela mantém essas informações salvas, ou até pedir a exclusão
desses dados dos
seus servidores. O texto, que foi sancionado em 2018 e entrou em vigor na
última sexta-feira, isenta até agosto de 2021 a aplicação de multas para quem
desrespeitar a lei, que podem variar de 2% do faturamento anual, mas não pode
ultrapassar a cifra de R$ 50 milhões. A fiscalização e a penalização das
empresas serão feitas pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais
(ANPD), que já existe no papel, mas ainda não foi estruturada pelo governo federal,
o que pode gerar insegurança jurídica e dificuldades para a aplicação da nova
norma.
A LGPD divide os dados colhidos por sites como pessoais ou
sensíveis. No primeiro grupo, constam informações que podem identificar, direta
ou indiretamente, uma pessoa. Isso inclui nome, RG, CPF, gênero, data e local
de nascimento, telefone, endereço residencial, localização via GPS, retrato em
fotografia, prontuário de saúde, cartão bancário, renda, histórico de
pagamentos, hábitos de consumo, preferências de lazer, entre outros. Há também
dados que o site colhe sem que muitas vezes o usuário se dê conta, como os
cookies — que são pequenos arquivos de computador ou pacote de dados enviados
por um site para o navegador do usuário —, e o IP do computador, algo como o
“RG” da máquina. Já os dados sensíveis são todas as informações sobre crianças
e adolescentes, além de dados que revelam origem racial ou étnica, convicções
religiosas ou filosóficas, opiniões políticas, filiação sindical, questões
genéticas, biométricas e sobre a saúde ou a vida sexual de uma pessoa. Como o
próprio nome já diz, os dados sensíveis têm atenção especial do órgão regulador
para evitar que eles vazem ou sejam usados de forma indevida. Um exemplo
prático de como essas informações são usadas por empresas é o clássico episódio
das ligações de telemarketing. Mesmo que você não tenha dado diretamente o seu
contato para aquela empresa que está te oferecendo um serviço ou vendendo algum
produto, ela possui o seu número de telefone. Esse dado, no caso, pode ter sido
vendido por outro site que você tenha se cadastrado e registrado suas
informações pessoais.
“A LGPD veio para controlar práticas que eram comuns e agora
não podem mais, como o caso dos mailings. As empresas montavam bancos de dados
com diversas informações sobre clientes e os comercializavam. A lei coloca um
freio nesse tipo de prática e estabelece requisitos e critérios que as empresas
vão ter que se ater para coletar, tratar ou usar esses dados”, afirma André
Castro, professor de Direito do Ibmec de São Paulo. Mais do que
definir diretrizes com o permitido ou não na gerência de dados, a LGPD permite
que usuários tenham seus dados, parcial ou totalmente, retirados dos bancos de
informações de qualquer empresa, como aquela de telemarketing que tem seu
número de telefone mesmo que você nunca tenha se cadastrado no site dela. “O
site da empresa é um bom termômetro para saber como ela está lidando com essa
questão. Se ele não está adaptado e não explica como eles lidam com os seus
dados, é possível que a empresa como um todo também não tenha se adaptado.
Hoje, não basta ser, tem que parece ser e mostrar que está fazendo o correto”,
afirma o professor.
Fonte: JP News