Um site que vendia informações pessoais como nomes, emails,
endereços e telefones de profissionais de todo o Brasil foi alvo da primeira
ação civil pública ajuizada no país com base na Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais (LGPD) desde que a nova legislação entrou em vigor na última
sexta-feira (18).
A ação foi movida pela Unidade Especial de Proteção de Dados
e Inteligência Artificial (Espec) do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT), na segunda-feira (21).
Um juiz da 5ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e Territórios, no entanto, extinguiu a ação nesta terça-feira (22) por
ausência de interesse processual. Isso porque o site que vendia os dados já
estava em manutenção quando foi acessado pela Justiça.
Mesmo assim, a ação movida pelo MPDFT é um marco, por ser a
pioneira no país a se basear na LGPD. A ação, um pedido de tutela, é contra a
empresa Infortexto Ltda., com sede em Belo Horizonte, com o objetivo de
proteger as informações das pessoas que tiveram os dados vazados e
comercializados de forma indevida pelo site.
Segundo o MPDFT, a empresa vendia dados segmentados por
profissões como cabeleireiros, corretores, dentistas, médicos, enfermeiros,
psicólogos, entre outros. Os pacotes com as informações pessoais eram vendidos
por preços que variavam de R$ 42 a R$ 212,90. Somente em São Paulo, 500 mil
pessoas nascidas no município foram expostas indevidamente.
De acordo com a ação, a Infortexto divulgava esses dados de
maneira irregular e de modo que poderia gerar prejuízo aos titulares. Além
disso, o direito à intimidade, à privacidade e à imagem, garantidos pela
Constituição Federal, foi violado.
Para a advogada Denise Tavares, especialista em direito
digital e membro da International Association of Privacy Professionals (IAPP),
a empresa estaria desrespeitando diversos requisitos da LGPD, como a
transparência e a finalidade do uso dos dados pessoais.
Além disso, diz, o tratamento pode estar ocorrendo "sem
a devida legitimação para o seu uso e sem garantias de medidas de segurança
adequadas para proteger os dados pessoais, dentre outras violações",
afirmou.
Segundo a advogada, o principal pedido do MPDFT foi o de
eliminar do site todos os dados pessoais tratados de forma irregular "A
ação proposta tem um formato preparatório de uma futura ação civil pública por
reparação de danos. O interesse é verificar a existência de lesão ou ameaça de
lesão a um interesse coletivo", disse.
A LGPD começou a vigorar no último dia 18, mas as punições
em caso de desrespeito à lei não estão valendo ainda e o órgão responsável por
fiscalizar as regras —a Autoridade Nacional de Proteção de Dados— não foi
plenamente estabelecido.
Como forma de atender aos pedidos das empresas, as punições
por desobediência à LGPD só serão aplicadas a partir de agosto de 2021. Mesmo
assim, tanto o Ministério Público quanto os órgãos de defesa do consumidor já
podem aplicar a lei.
"O MP pode, por exemplo, pedir reparação de danos ou
indenização. E no caso do site, foi isso que o órgão fez. O pedido de tutela
foi para que o site eliminasse todos os dados pessoais tratados de forma
irregular. Pediram até para o NIC.br [Núcleo de Informação e Coordenação do
Ponto BR] cancelar definitivamente o domínio do site", explicou.