O programa Titula Brasil, que entrou
em vigor na última quarta-feira (10), visa permitir que o Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) agilize os processos
de regularização fundiária e de entrega de títulos para assentamentos da
reforma agrária a partir de parcerias com as prefeituras.
Esse tipo de cooperação com
estados e municípios já
era previsto por lei desde 2009, mas a diferença agora, segundo o Incra, é
que o programa vai promover uma padronização dessas parcerias, evitando que
cada superintendência da entidade nos estados adote critérios próprios nos
acordos.
A adesão não é obrigatória e os
municípios poderão participar do programa desde que cumpram alguns requisitos e
etapas. Além disso, eles só poderão realizar tarefas, como coleta de informações
e documentos e vistorias, nos imóveis rurais.
A análise e a decisão sobre a
regularização e titulação das terras vão continuar sob a responsabilidade
exclusiva do Incra, assim como a emissão dos documentos.
Veja mais detalhes do programa a
seguir:
Quais são os requisitos e
etapas para participar?
Para participar do Titula Brasil,
as prefeituras devem preencher alguns requisitos e seguir algumas etapas. A
primeira é que as cidades deverão ter projetos de assentamento da reforma
agrária criados pelo Incra ou glebas federais, que são áreas da União aptas à
regularização fundiária.
Segundo o instituto, 1.935
municípios se encaixam no perfil. Há uma maior incidência nos estados da Bahia
(171), do Maranhão (137) e de Pernambuco (116).
Já o processo de adesão ocorrerá
da seguinte forma:
·
a prefeitura interessada deverá assinar um termo
de adesão junto ao Incra;
·
se a cidade cumprir os requisitos, o instituto
formalizará o Acordo de Cooperação Técnica para implantação do Núcleo Municipal
de Regularização Fundiária (NMRF);
·
o município, então, indicará o grupo de
servidores responsável pela vistoria no local e pela coleta de documentos
(os servidores só podem começar a atuar após capacitação do Incra).
O que os municípios podem
fazer?
Segundo o Incra, o Núcleo Municipal
de Regularização Fundiária vai atuar na coleta de requerimentos, declarações e
documentos relacionados aos processos de regularização e titulação.
O órgão também poderá fazer
vistorias em imóveis rurais, mas desde que sejam em áreas passíveis de regularização,
indicadas pelo Incra e realizadas por profissionais habilitados.
Além disso, as cidades vão poder
fazer o georreferenciamento das terras, ou seja, mapear a exata posição
geográfica de um imóvel rural.
O Incra destaca ainda que os
integrantes dos núcleos municipais vão receber treinamento do instituto antes
de irem a campo.
Quem escolhe as áreas que
serão regularizadas?
Somente o Incra vai poder decidir
quais as áreas passíveis de regularização e titulação fundiária. Esta não é uma
atribuição dos municípios. É de responsabilidade do instituto federal repassar
para as prefeituras em quais os imóveis estes serviços podem ser feitos.
A decisão final e emissão de
documentos também são tarefas exclusivas do Incra.
Aplicativo Titula Brasil
Para automatizar o processo de
regularização, o governo federal também lançou nesta semana o App Titula
Brasil.
Por meio dele, os vistoriadores,
ao irem até as áreas rurais da União, vão poder realizar o levantamento da
situação do imóvel, mesmo sem internet, além de coletar informações e
documentos necessários para dar andamento ao processo de titulação.
Ainda pelo aplicativo, o
colaborador vai receber do Incra o plano de vistoria do imóvel, podendo
conferir todos os dados georreferenciados de limites dos imóveis rurais no
próprio local para validação, regularização e disponibilização posterior do
documento de titulação.
O formulário com o parecer
técnico e todas as informações da área rural, inclusive fotos e vídeos, pode
ser enviado ao coordenador do plano de trabalho pelo sistema web e aos
colaboradores que também tenham o aplicativo.
O impacto do programa
Para o coordenador do Laboratório
de Gestão de Serviços Ambientais e professor da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), Raoni Rajão, o Titula Brasil é positivo no sentido de agilizar
os registros de titulação, mas não lida com o que, para ele, é o problema
principal do Incra: os cortes no orçamento e a diminuição de servidores nos
últimos anos.
"Hoje o problema do Incra
não é só lentidão na titulação, mas falta de monitoramento das áreas sob sua
responsabilidade (não expulsa invasores) e também não cobra cláusulas
pós-título", diz.
"Quem desmata pós-título tem
que perder a terra pelo contrato. Mas isso não é cobrado, como aponta
auditorias do TCU [Tribunal de Contas da União]", acrescenta.
Além disso, ele avalia que outros
gargalo do instituto é a grande quantidade de processos de regularização
fundiária que estão em análise. "São dezenas de milhares. Incentivar
municípios a ajudar a registrar mais processos não vai resolver esse passivo na
parte que demanda de análise do órgão", reforça.
Para o Incra, as parcerias que
serão feitas por meio do programa não significam uma "terceirização dos
trabalhos para os municípios".
De acordo com o instituto, a
cooperação com os governos regionais "vai permitir maior transparência,
segurança jurídica, redução custos operacionais e maior celeridade e
eficiência" nos processos de regularização.
O que é regularização
fundiária?
A regularização fundiária é a
venda ou cessão de terras públicas do governo federal sem destinação pelo poder
público (que não sejam reservas legais, áreas indígenas ou militares) para
pessoas que a ocupam antes de julho de 2008 (no caso de cessão) e antes de
dezembro de 2011 (no caso de venda).
No ano passado, o
governo federal publicou uma medida provisória que visava alterar as regras da
regularização fundiária.
A MP 910 ampliava em quase quatro
vezes a quantidade das propriedades que poderiam ser regularizadas, tendo como
base apenas a autodeclaração de posse da propriedade, ou seja, o interessado
informaria o tamanho da propriedade e há quanto tempo ele estaria a ocupando.
A medida acabou não sendo votada
e perdeu a validade em maio de 2020. A Câmara dos Deputados decidiu, então,
tratar a questão da regularização fundiária a partir do Projeto
de Lei 2.633/2020, de autoria do deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), que
ainda aguarda votação no Congresso Nacional.
Fonte: G1