O papel do notariado nas iniciativas
de desburocratização e de combate à corrupção no Brasil estiveram no centro dos
debates do segundo dia do XXIV Congresso Notarial Brasileiro, na Praia do
Forte, na Bahia. No primeiro painel da programação, pela manhã, o secretário
especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da
Economia, Paulo Uebel, demonstrou a sua expectativa de que, cada vez mais, o
notariado possa executar serviços a serem descentralizados pelo governo. “Em um
balcão único, essa será uma forma de reduzir os custos e de proporcionar mais
valor para a sociedade”, defendeu. O painel reuniu, ainda, o vice-presidente do
Colégio Notarial do Brasil/SC, Ângelo Vargas, e o presidente do CNB/MT, Daniel
Fries. A mediação foi do presidente do Conselho Federal do Colégio Notarial do
Brasil (CNB/CF), entidade organizadora do congresso, Paulo Roberto Gaiger
Ferreira.
Uebel discorreu sobre as cinco
estratégias do governo federal para fazer a transformação digital no Brasil: a
identidade digital; a publicação de mil novos serviços digitais, com a
perspectiva de R$ 6 bilhões em economia; a unificação de canais; a agilização
do sistema de registro de empresas; e a interoperabilidade da base de dados,
tratando o cidadão a partir do CPF como único número. “Temos a quarta maior
população conectada do mundo, inclusive um total maior do que algumas das
nações mais desenvolvidas do planeta. Então, representa uma oportunidade de
concretizar a inclusão digital. Atualmente, o País contabiliza 3297 serviços,
sendo 46% digitais, e a meta até o final da gestão é chegar aos 100%”, afirma
Paulo Uebel.
Ele está convicto de que este é o
caminho para o Brasil integrar uma cadeia global, com melhores índices de
facilidade de se fazer negócio – hoje, ocupa a 109ª posição no ranking mundial.
“Claro, para isso, é imprescindível uma mudança de cultura, com foco no cidadão
e na cidadã, tornando a sua experiência e a sua jornada mais simples.”
Computação em nuvem, inteligência artificial, big data&analytics, internet
das coisas e blockchain figuram entre as dimensões utilizadas pelo governo para
atingir seus objetivos. “Percebi aqui no congresso que o notariado também tem
procurado essas alternativas. É fundamental que os cartórios e tabelionatos
possam implementar mecanismos que possibilitem a conclusão de transações
remotamente, preservando a segurança da informação. Sei que o notariado já
busca isso por meio de parceria, por exemplo, com o Serpro (Serviço Federal de
Processamento de Dados). Afinal, o futuro é não ter fronteiras. As pessoas
querem usufruir e não possuir”, concluiu.
Ângelo Vargas lembrou que o CNB
desenvolveu o e-notariado, plataforma de serviços integrados na internet, por
estar sintonizado com a contemporaneidade: “No congresso, temos mais de 500
tabeliães que poderão emitir seus certificados digitais e serem autoridades
certificadoras em cada comunidade. Com isso, podemos auxiliar no propósito de
sociedade digital que pretende o governo e atender efetivamente a população.”
Combate
à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro
À tarde, a programação contemplou o
debate sobre o papel do notariado nos esforços anticorrupção no País. O painel
reuniu o juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça (CNJ) e integrante
da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (ENCCLA),
Jorsenildo Dourado do Nascimento; o presidente da Unidade de Inteligência
Financeira (UIF), Ricardo Liáo; e o procurador da República Rafael Miron. A
mediação foi do coordenador da Comissão de Combate à Lavagem de Dinheiro e
vice-presidente do CNB/CF, Filipe Andrade Lima.
Durante o painel, Jorsenildo prometeu
para a segunda quinzena de setembro a publicação de uma normativa que inclui o
notariado brasileiro no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Há tempos
aguardado pelos tabeliães, o provimento prevê que os atos notariais e
registrais suspeitos sejam informados à UIF – a exemplo do que acontece em
países como a Espanha, onde o notariado é o segundo maior ente de fornecimento
de informações financeiras depois das instituições bancárias. “As pessoas se
utilizam dos serviços notariais e registrais para dar uma aura de legalidade a
possíveis atos ilícitos”, afirmou o magistrado.
Mais do que acrescentar os
tabelionatos aos esforços de combate à corrupção e lavagem de dinheiro, a
normativa atende à recomendação feita em 2010 pelo Grupo de Ação Financeira
contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (GAFI). Neste ano,
o organismo internacional emitirá um novo relatório sobre a situação brasileira
– a não inclusão dos notários nas iniciativas anticorrupção pode implicar a
exclusão do GAFI, afetando a imagem do Brasil.
Recém-empossado presidente da UIF,
Ricardo Liáo abordou o funcionamento do órgão e deu as boas-vindas aos
notários. “A partir da edição do provimento, que está em fase final de ajustes,
os senhores serão muito bem-vindos ao mundo do combate à corrupção, à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo”, destacou. Liáo, que já
participou de outros congressos promovidos pelo CNB/CF, assegurou que a Unidade
de Inteligência Financeira estará cada vez mais próxima ao notariado. “Podem
ter certeza de que a UIF irá integrar uma rotina permanente nos eventos dos
senhores”, destacou o presidente do antigo Coaf.
Texto:
Ascom e CNB/CF