Divórcios das celebridades
são manchetes pelas disputas por patrimônio e pelo comando das empresas
constituídas durante a união. Casos como o do jogador Hulk chamam a atenção
pela vultuosidade dos números e pela dificuldade de negociação para a divisão
de patrimônio. No campo empresarial, o debate foge dos tablóides e se volta
para a realidade corporativa do País que, de acordo com dados do Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), tem 90% de todas as
empresas com caráter familiar e os cônjuges como sócios. Por isso, números do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativos ao divórcio
têm chamado a atenção.
De acordo com o
levantamento, divulgado no final de 2019, nos últimos doze meses, houve
elevação de 3,2% no número de divórcios em todo o Brasil. A proporção é de três
casamentos para cada separação. De acordo com o especialista em governança
corporativa, Marcelo Camorim, o número de empresas que passa por instabilidade
financeira causada por conflitos de gestão oriundos do divórcio dos sócios
cresce diariamente e reflete o despreparo empresarial do brasileiro.
“Não faz sentido a empresa
entrar em conflito porque os sócios estão finalizando uma etapa pessoal. No
campo empresarial eles não seriam marido e mulher, mas dois sócios com um
objetivo comum de crescimento da empresa que, na maior parte das vezes, garante
o sustento deles e de toda a família”, afirma o especialista. Camorim enfatiza
que, na prática, não é isso que acontece e o mercado vem trazendo exemplos
diários de situações em que a desilusão amorosa e a disputa por bens ou pela
direção dos negócios tem prejudicado diretamente a ascensão de empresas
promissoras.
“A passionalidade vem à
tona e as emoções passam a gerir as decisões. Um efeito dominó começa a ser
criado por meio de postura errada, divisão da equipe e ausência de
transparência das ações no fluxo de dinheiro. Se não for parado a tempo, a
única alternativa é a falência da empresa”, explica Camorim, enfatizando que os
sócios não devem permitir que seus problemas pessoais causem atritos
organizacionais como disputa por cargos entre familiares e divisão da equipe.
Segundo ele, uma boa alternativa é a contratação de um mediador profissional,
isento de passionalidade, para o gerenciamento da crise do divórcio e para a
realização da transição de gestão.
Nas grandes corporações, o
impacto não é sentido porque as regras são claras e bem estabelecidas para
todos os sócios por meio de documentos e pelo fato da empresa não estar
dependente do trabalho desenvolvido por uma das partes. Bem diferente do que
ocorre na maioria das pequenas empresas, segundo Camorim, onde não existe a
elaboração de documentos societários como contrato social, estatuto social e
acordo de sócios prevendo soluções legais para resolução de impasses. “Há ainda
a dependência da empresa em relação ao trabalho desenvolvido pelo sócio. Com o
divórcio, há perda de capital, Know How e um braço produtivo, que pode se
tornar um ferrenho concorrente”, frisa.
Camorim explica que
precauções podem ser tomadas pelo casal empreendedor a fim de preservar o
equilíbrio organizacional. Para o especialista, planejamento, organização e
regulação dos assuntos relacionados ao patrimônio, família e gestão empresarial
são essenciais para evitar conflitos em momentos decisórios. “A separação dos
bens pessoais dos empresariais e o planejamento estratégico da empresa são
outras boas práticas que auxiliam nos momentos mais difíceis da crise do
divórcio e que permitem que a empresa possa continuar andando sem restrições
jurídicas ou perda de foco estratégico”, pontua.
Fonte: Rota Jurídica